Fala da Jornada Clinica CRP PE 01\08\2025 Direitos Humanos em Pernambuco: Desafios e compromissos da Psicologia

 

Boa noite  a todas, todos e todes.

Me chamo Maria da Conceição Correia Pereira ( Concita)  sou psicóloga e venho, nos últimos anos, atuando em Pernambuco na interface entre a Psicologia da Aviação, a Gestão Integral do Risco, as Emergências e os Desastres psicologia Clinica infanto juvenil e de envelhecimento. E´ no campo da Gestão do Risco integral e da emergência e desastres que observa-se  como marcado por desigualdades, sofrimento coletivo e ausência de decisões  públicas eficazes que fui percebendo o quanto o direito à vida digna é, muitas vezes, o primeiro a ser violado quando ocorre um desastre, seja ele ambiental, social ou de outras ordens

 Em todas essas situações, o que está em jogo não é apenas a resposta técnica, mas a garantia de direitos: o direito ao cuidado, ao luto respeitado, à saúde física e mental, à moradia segurança  à informação adequada, à reparação e à escuta.
Por isso, hoje, ao falar de Direitos Humanos em solo  Pernambucano, me coloco não apenas como profissional, mas como alguém que carrega na prática cotidiana o compromisso ético- político da Psicologia com a defesa da dignidade humana.

Pernambuco tem sido, ao longo dos anos, um território de grandes lutas e também de grandes contradições. Relembro aqui o desastre de Jardim Monte Verde, em 2005, que revelou a vulnerabilidade estrutural de várias comunidades do Recife. Em 2010, as chuvas devastaram a Zona da Mata Sul e o Agreste, deixando um rastro de perdas materiais e humanas. E mais recentemente, em 2022, a região metropolitana do Recife voltou a ser palco de mortes anunciadas pela falta de ação do poder público e pela omissão histórica do Estado.

A Psicologia esteve presente nesses contextos, muitas vezes de forma voluntária, muitas vezes sem o apoio das políticas públicas. Estivemos ali, porque entendemos que o sofrimento humano não pode ser medicalizado nem silenciado  ele precisa ser escutado, acolhido e, acima de tudo, compreendido como um fenômeno que exige posicionamento.

A problemática dos direitos humanos em Pernambuco

Falar de Direitos Humanos no nosso estado é, antes de tudo, olhar para a profunda desigualdade estrutural que marca o acesso à cidade, à justiça, à educação, à saúde, à terra, à água e ao trabalho digno.

Em Pernambuco, os direitos são frequentemente seletivos. As populações negras, periféricas, LGBTQIAPN+, indígenas, ribeirinhas, pessoas com deficiência e mulheres e crianças seguem sendo alvo de violações sistemáticas. O racismo ambiental, por exemplo, se manifesta de forma evidente  quando áreas de morro ou de alagamento seguem sendo ocupadas por falta de alternativas habitacionais  e a morte se torna uma probabilidade cotidiana.

Nesse contexto, a Psicologia não pode se calar. Somos chamados a intervir em múltiplos espaços: da clínica ao CRAS, da escola ao sistema prisional, da universidade à rua  e em todos esses lugares precisamos afirmar o compromisso da nossa ciência e profissão com os direitos humanos.

 

 Os desafios enfrentados pela categoria profissional da Psicologia

Mas como manter esse compromisso em meio a tantas contradições?

Nós, profissionais da Psicologia em Pernambuco, enfrentamos uma série de desafios:

  • Contratos de trabalho precarizados
  • Ausência de políticas públicas estruturadas para atuação em emergências
  • Sobrecarga emocional em situações de calamidade
  • Falta de formação específica continuada em direitos humanos e interseccionalidade
  • Invisibilização do nosso trabalho em políticas públicas, especialmente em saúde mental

Além disso, há um risco recorrente de redução da nossa atuação a uma técnica despolitizada, descolada do contexto, como se fosse possível escutar sem se implicar, acolher sem compreender as estruturas de violência, ou cuidar sem questionar o que produz o sofrimento.

 Psicologia não é prática isolada: é projeto ético e científico de compromisso com os direitos humanos

A Psicologia em Pernambuco precisa afirmar cada vez mais  que nossa prática não é neutra, não é isolada e não pode se limitar ao individual. Não há cuidado real que se faça sem olhar para os determinantes sociais, sem escutar a comunidade, sem se colocar em diálogo com os movimentos sociais e com os territórios.

Não basta sermos boas técnicas ou bons clínicos: é preciso perguntar para quem, com quem e a serviço de quê estamos atuando.

E é aqui que se torna essencial reafirmar: os direitos humanos não são um “tema a mais” na Psicologia. Eles são a estrutura sobre a qual a nossa ciência precisa se erguer.

Seja na Psicologia Clínica, Social, Escolar, Organizacional, Comunitária, Ambiental ou nos contextos de emergência, todas as psicologias existentes devem ter o compromisso com os direitos humanos como eixo central.

Como ciência, precisamos construir evidências que revelem as estruturas que adoecem.
Como prática, precisamos atuar com escuta, com presença e com engajamento nos territórios.
Como categoria profissional, precisamos ampliar nossa voz nos espaços de controle social e de formulação de políticas públicas.

 Caminhos possíveis de engajamento: onde fortalecer nossa presença como categoria

Felizmente, Pernambuco é também um estado onde a resistência vive  e onde temos espaços coletivos que possibilitam o engajamento e a incidência política da Psicologia:

  • CREPOP/CRP-02 – que produz referências técnicas voltadas às políticas públicas e atua de forma comprometida com a ética e os direitos.
  • Comissão de Gestão de risco Emergências e Desastres – que discute ações formativas, protocolos e formas éticas de cuidado em desastres, muitas vezes em articulação com outros coletivos. A própria comissão de Diretos humanos .
  • Fórum de Entidades da Psicologia em Pernambuco – espaço de debate sobre a profissão em diálogo com a sociedade.
  • Conselhos de Direitos (como o CMDCA, o CEDHPE, entre outros) – onde é possível atuar diretamente na formulação de políticas públicas.
  • Coletivos populares e organizações históricas, como o Instituto PAPAI, GAJOP, Centro Dom Helder Câmara, CPT, MTST-PE, Fórum Popular de Segurança Pública, Rede Transvida, movimentos de luta por moradia, coletivos antirracistas e anticapacitistas.

Esses são espaços que nos desafiam a sair do consultório, da sala de aula, do atendimento isolado e ir para o chão onde os direitos estão sendo disputados e violados . Psicologia viva, política e comprometida

Concluo essa fala reafirmando que o compromisso com os direitos humanos não é um acessório da nossa formação é o seu fundamento.
Psicologia sem direitos humanos é apenas técnica sem alma.
Psicologia com direitos humanos é prática encarnada no mundo real, onde a vida pulsa, sangra, resiste e sonha.

Desejo que a nossa presença, como psicólogas e psicólogos em Pernambuco, continue sendo uma presença viva, implicada, com coragem ética e com ternura política.

Muito obrigada.

 

 

A Psicologia em Tempos de Emergências : Cuidar-se Para Cuidar

 


Por Concita Maria da Conceição Correia Pereira

1. Cenários de Emergências: Desafios do Cuidado em Tempos Críticos

Refletir sobre a psicologia em tempos de emergências nos remete, antes de tudo, ao cuidado com quem cuida. Em contextos marcados por situações críticas, essa perspectiva torna-se um imperativo ético e humano.

O primeiro ponto que queremos destacar nesta fala diz respeito à crescente visibilidade dos desastres que, infelizmente, têm atingido com frequência diversas regiões do planeta. Dentre eles, destacam-se os desastres socioambientais, intensificados pelas mudanças climáticas  ainda negadas por muitos, mas evidentes em tragédias como a vivida no estado do Rio Grande do Sul. Essa experiência dolorosa, que ainda não se encerrou, escancarou a gravidade dos impactos ambientais e sociais que atingem comunidades inteiras.

Mas não estamos falando apenas de desastres ambientais . As tragédias tecnológicas, como o crime socioambiental de Brumadinho causado pela mineradora Vale, também revelam as engrenagens de um sistema neoliberal que prioriza o lucro acima da vida. Em todos esses contextos, é imprescindível voltar o olhar para os profissionais que estão na linha de frente: aqueles que acolhem, resgatam, atendem e, também sofrem profundamente.

Precisamos pensar nesses sujeitos não apenas como técnicos, mas como pessoas atravessadas pela dor dos outros  e também pelas suas próprias dores. O sofrimento do outro nos convoca a reconhecer o nosso próprio, e só o cuidado consigo mesmo pode impedir que essa dor se transforme em adoecimento psíquico, físico e social.

2. O Desafio do Autocuidado: Cuidar-se Para Cuidar

O segundo ponto que nos desafia é a prática do autocuidado. Muitas vezes, essa dimensão é negligenciada, como se fosse algo secundário ou uma concessão, quando deveria ser compreendido como um direito e uma necessidade ética. No entanto, reconhecer nossas vulnerabilidades  físicas, emocionais e psíquicas é fundamental para prevenir o sofrimento e mitigar seus efeitos.

Costumo afirmar que um dos pilares para lidar com o sofrimento daqueles que cuidam é uma formação sólida, aliada à consciência de suas competências e habilidades pessoais e profissionais. Quem tem clareza sobre seu saber técnico está mais preparado para agir com segurança em contextos críticos. Essa consciência favorece a tomada de decisões e a operacionalização de ações eficazes, mesmo diante da incerteza dos cenários que se transformam rapidamente.

Dou um exemplo real: em uma situação de desabamento, fui chamada para resgatar uma senhora que havia perdido quatro familiares soterrados. Ela se recusava a sair do local, tomada pela dor e pelo desespero. A intervenção imprimia ser rápida, empática e precisa. Usei palavras que a ajudassem a se reconectar com sua própria sobrevivência. Reconecta-la a sua condição de vida e de existência no contexto da sua família e da sua capacidade de resiliencia emocional, não foi fácil, realizamos algo que Baubert,2010 chama de oxigenação psíquica  e convencê-la a sair foi um ato de mitigação de sofrimento e de prevenção de um possível trauma maior. Conseguimos retirá-la sem o uso da força algo que, caso necessário, faríamos por sua própria segurança. Essa experiência reafirma o quanto a formação e a habilidade em negociação, comunicação e escuta ativa  são fundamentais em tais momentos .

Além disso, é essencial compreender que não estamos sozinhos. Muitos profissionais atuam em rede, e devemos evitar o peso da onipotência  aquela crença de que precisamos dar conta de tudo sozinhos. Isso só aprofunda uma fadiga silenciosa, uma fadiga que tenho o costume de chamar fadiga existencial que defini em minha dissertação de mestrado como um estado profundo de esgotamento emocional, mental e espiritual que vai além do cansaço físico ou da exaustão típica do trabalho. Ela se caracteriza por um sentimento persistente de vazio, falta de sentido, desalento diante da vida e desconexão com o propósito pessoal ou coletivo. e muitas vezes não reconhecida: a fadiga existencial, marcada por um cansaço que antecede até mesmo o início da jornada de trabalho.A Fadiga existencial é o esgotamento que resulta não apenas do excesso de fazer, mas da ausência de sentido no que se faz.Em uma trabalho de cuidar de pessoas em vulnerabilidades , solicita a nossa compreensão de compartilhar e absorver  saberes , conhecimentos advindos de outros profissionais que estão atuando no mesmo âmbito de tais situações e devemos cuidar da partilha, construir coletivos de apoio e fortalecer as redes são caminhos possíveis para diluir essa sobrecarga. Nenhum cuidado pode ser feito isoladamente. O “nós” precisa estar acima do “eu” quando se trata de preservar a saúde mental de quem cuida.

3. Escutar os Sinais do Corpo e da Alma

Cuidar de si para cuidar do outro exige escuta atenta aos nossos próprios sinais de alerta: dificuldades para dormir, insônia persistente, angústia diária, tristeza prolongada, uso contínuo de medicamentos  mesmo os mais simples  e, sobretudo, a presença sutil de ideações suicidas, que podem se expressar em formas veladas, como a negligência com o próprio bem-estar.

Por isso, recomendo um acompanhamento psicológico contínuo para profissionais que atuam diretamente com o sofrimento humano. Psicólogos e assistentes sociais, por exemplo, tendem a buscar mais esse tipo de apoio. Já médicos, enfermeiros, bombeiros, policiais e outros trabalhadores de ponta, por vezes presos em posturas de negação ou de onipotência, resistem mais a procurar ajuda.

Reforço aqui a necessidade de que instituições e organizações criem programas específicos voltados ao cuidado com o cuidador, considerando os fatores humanos envolvidos. Cuidar de quem cuida não pode ser apenas um discurso: precisa ser uma política institucional.

O Cuidado de Quem Cuida é uma Urgência Coletiva

Cuidar de quem cuida não é um favor, nem um gesto de boa vontade  é uma urgência ética, política e institucional. Não se trata apenas de garantir que profissionais estejam “bem” para continuar produzindo, mas de reconhecer que são seres humanos atravessados pelas dores que enfrentam, pelas perdas que testemunham, pelas impossibilidades diante daquilo que não podem evitar.

O sofrimento psíquico de quem atua em situações de emergência, catástrofes, desigualdades e abandono institucional não pode mais ser romantizado nem invisibilizado. A exaustão desses profissionais não é fraqueza  é sinal de que algo no sistema precisa mudar.

O cuidado com quem cuida deve ser compreendido como parte da resposta social aos desastres, à dor e à reconstrução da vida. Não é algo adicional, é estruturante. É condição de permanência com dignidade. É também resistência.

Sem políticas de acolhimento, espaços de escuta, suporte técnico e emocional, e sem o fortalecimento das redes de apoio e solidariedade, continuaremos adoecendo aqueles que mais sustentam a vida nos momentos mais difíceis.

Que possamos seguir lembrando: ninguém cuida de ninguém com potência quando está esgotado, solitário ou sem sentido. O cuidado começa dentro e precisa se expandir para o coletivo.

Esse é o nosso compromisso: não apenas cuidar do outro, mas construir um mundo em que também possamos ser cuidados.

Quero concluir com um pensamento de Freud que ressoa profundamente com o tema que nos une hoje. Em um de seus textos, ele afirma:

 

 

“Volte seus olhos para dentro, contemple suas próprias profundezas, aprenda primeiro a conhecer-se.”

 

 

Esse convite à introspecção é, na verdade, um convite ao cuidado com a própria vida. O caminho do autoconhecimento é essencial para uma existência mais plena e feliz. Ao mergulharmos em nossas profundezas com coragem e aceitação, tornamo-nos mais capazes de cuidar do outro com leveza. E, assim, mitigamos nossas próprias dores, adoecemos menos e seguimos mais inteiros naquilo que escolhemos fazer: cuidar.

 

 

Esse é o grande desafio. E também o grande chamado.

 

 

No Olho da Tempestade: A Atuação da Psicologia em Desastres Aéreos

 


Por Maria da Conceição Correia Pereira CRP 02\1376

Fala aos profissionais de psicologia e interessados no tema da gestão do risco integral e emergências e desastres junto ao CRP Minas Gerais – O tema do desastres aéreos

 

Boa noite a todas todos todes . É com imenso respeito à nossa profissão, e também à dimensão humana da dor que permeia os desastres, que compartilho com vocês um pouco da minha prática e reflito sobre a atuação da psicologia diante de uma das formas mais impactantes e visíveis de tragédia moderna: os desastres aéreos.

 

Abrimos esta conversa evocando memórias que muitas vezes assistimos pela televisão ou lemos nas manchetes: o silêncio após o estrondo, as sirenes de bombeiros e das ambulâncias a angústia de familiares em salas de aeroporto, os escombros espalhados, e os nomes que de repente ganham rostos e histórias. O desastre da Chapecoense em 2016, o voo 1901 da Gol  sobre a mata amazonas o voo 3054 da TAM em Congonhas em 2007 ( este acidente está sendo apresentando documentário na netflix neste momento) , ou mesmo o acidente com a Varig em 1982 que teve na época uma repercussão midiática bastante significativa,  são exemplos que marcaram profundamente não só os familiares e sobreviventes, mas também a coletividade não só da comunidade aeronáutica mas na população em geral ,  nacional e internacional.

 

A pergunta que nos guia hoje é: qual o papel do psicólogo frente a essa condição de  complexidade? Como podemos atuar com ética, competência e sensibilidade em cenários de tamanha ruptura humana e simbólica?

 

1. Entendendo os desastres e os desastres aéreos

 

Segundo a ONU, desastres são eventos graves e disfuncionais que ultrapassam a capacidade de resposta de uma comunidade, exigindo ajuda externa e provocando perdas humanas, materiais, ambientais ou institucionais. No Brasil, a Lei nº 12.608/2012, que institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, também define desastres como ocorrências adversas que causam danos significativos.

 

Os desastres aéreos se inserem na categoria de desastres tecnológicos — provocados por condições  humanas, técnicas ou estruturais. São marcados muito pontualmente por :

- Grande visibilidade midiática;

- Impacto coletivo e simbólico (aeronaves representam tecnologia, controle, segurança);a idéia do desatre aéreo é permiada or uma concepção de racionalidade onde o transporte aéreo é considerado o mais seguro. E o desastre quando é vivenciado quebra ou desaloja essa racionalidade

- Fragmentação corporal e dificuldades no reconhecimento das vítimas; ou até mesmo a impossibilidade de resgate dos corpos

- Demandas jurídicas e burocráticas longas para os familiares de vitimas ;

- Alto grau de sofrimento psíquico para todos os envolvidos, incluindo equipes de trabalho não só da empresa atingida pelo desastre mas atinge toda comunidade aeronáutica.

 

2. Impactos psicológicos dos desastres aéreos

 

Os efeitos psicológicos variam conforme a posição do sujeito em relação ao desastre.

 

a) Vítimas diretas ou sobreviventes: sofrem frequentemente choques psicológicos intensos, confusão mental, sensação de irrealidade, estados dissociativos e sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). A culpa do sobrevivente é comum: “por que eu vivi e os outros não?”

 

b) Familiares das vítimas: vivem o que chamamos de luto traumático ou luto prolongado mas devemos entender que luto é processo e que coloca as pessoas envolvidas em condição de risco e de fato pode se torna em condição psicopatológica com comordidades especificas  — especialmente quando não há um corpo identificado. A dor é agravada pela espera por informações, pelas dificuldades de comunicação e pela exposição midiática. A psicologia tem papel crucial no acolhimento e na facilitação do processo de luto considerando todo o contexto de cada cenário em cada condição do acidente aéreo. O acolhimento a dor e ao sofrimento pode dimensionar condições de vivencia adaptacional ou não nas perdas vivenciadas diante da população atingida de forma direta pelo desastre.

 

c) Socorristas, psicólogos e equipes de emergência: também são impactados. Muitas vezes desenvolvem trauma vicário, que é traumatização secundária que é um fenômeno psicológico que afeta pessoas que lidam diretamente e intensamente com os sofrimentos de outras, especialmente no contexto do cuidado escuta e assistencia,  esgotamento por empatia, ou burnout. Precisam de acolhimento, supervisão e espaços de cuidado psicológico.

 

d) Comunidade e mídia: o desastre aéreo gera um abalo simbólico que atinge o imaginário coletivo. Pode provocar ansiedade, medo de voar, desconfiança em instituições, e até mesmo sintomas psíquicos difusos. A psicologia social e comunitária tem papel aqui.

 

3. Fases do desastre e a atuação do psicólogo

 

A atuação do psicólogo deve respeitar as quatro fases do ciclo de gestão de riscos e desastres:

 

a) Prevenção e preparação:

- Participar dos planos de contingência dos aeroportos;

- Realizar treinamentos, simulados e capacitações para equipes de solo, bombeiros, aeroviários e agentes públicos;

- Trabalhar com a noção de prontidão emocional e protocolos de resposta.

 

b) Resposta imediata:

- Estar presente em Centros de Apoio aos Familiares (CAFs);

- Oferecer Primeiros Cuidados Psicológicos (PCP): escuta ativa, estabilização emocional, acolhimento imediato;

- Acompanhar a comunicação de más notícias, junto a médicos e autoridades;

- Garantir o respeito à cultura, às crenças e ao tempo psíquico de cada pessoa.

 

c) Recuperação:

- Oferecer atendimentos psicológicos individuais e em grupo;

- Criar espaços para o luto, elaboração simbólica da perda;

- Apoiar funcionários da companhia aérea, tripulação sobrevivente e equipes de resgate;

- Produzir documentos psicológicos quando necessário para auxiliar processos judiciais ou administrativos.

 

d) Reconstrução e prevenção:

- Contribuir com investigações de impacto psicossocial;

- Participar de comissões de revisão de políticas públicas e protocolos de resposta;

- Registrar aprendizados e fortalecer redes interdisciplinares.

 

4. Ferramentas de atuação

 

- Primeiros Cuidados Psicológicos (PCP), baseados nos princípios da OMS: proteger do dano, confortar, conectar com recursos e escutar sem invadir;

- Técnicas de grounding, respiração, e estabilização;

- Abordagens terapêuticas específicas, como EMDR, Terapia Cognitivo-Comportamental para TEPT, terapia do luto e grupos de apoio;

- Abordagem centrada na pessoa, ética e sensível às necessidades singulares em meio ao caos.

 

5. Marco ético e legal da atuação do psicólogo

 

Nosso trabalho deve estar ancorado em princípios éticos e legais sólidos.

 

a) Código de Ética Profissional do Psicólogo:

- Compromisso com a dignidade humana;

- Atuação com competência, limites técnicos e atualização constante;

- Respeito às singularidades e aos contextos de sofrimento.

 

b) Resoluções e notas técnicas do Conselho Federal de Psicologia (CFP):

- Resolução CFP nº 007/2003: disciplina a atuação do psicólogo em situações de emergências e desastres, ressaltando a necessidade de formação específica e a articulação com a Defesa Civil;

- Nota Técnica CFP nº 03/2020: elaborada durante a pandemia de COVID-19, traz orientações sobre acolhimento, cuidado ao profissional da psicologia e atuação interdisciplinar;

- Nota Técnica CFP nº 01/2022: orienta sobre comunicação de notícias difíceis, enfatizando escuta, privacidade e respeito às emoções dos envolvidos.

 

c) Integração com políticas públicas:

- Lei 12.608/2012 (Defesa Civil);

- Participação em comitês, núcleos psicossociais e parcerias com ANAC, CENIPA, Ministério Público, etc.

 

6. Legislação da Aviação Civil e sua Relação com o Atendimento Psicológico

 

A atuação psicológica em acidentes aéreos se ancora em marcos legais que estruturam a resposta humanitária e organizacional.

 

- Anexo 9 da Convenção de Chicago (OACI/ICAO): define a responsabilidade dos Estados em prover assistência humanitária, emocional e prática às vítimas de acidentes aéreos e seus familiares.

- Circular nº 285/ANAC (2013): obriga empresas aéreas a elaborarem o Plano de Assistência às Vítimas de Acidentes Aéreos e seus Familiares (PAVAA), que inclui protocolos de acolhimento psicológico, comunicação, apoio logístico e social.

- RBAC nº 20 (Regulamento Brasileiro da Aviação Civil): estabelece normas de investigação de acidentes e recomenda suporte às vítimas e familiares no processo.

- Portaria 1.356/GM do Ministério da Saúde (1994): define a resposta a múltiplas vítimas, prevendo integração entre SUS, SAMU e rede psicossocial.

- Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei nº 13.709/2018): exige cuidado com informações sensíveis e confidencialidade.

 

7. Desafios e reflexões

 

- Preparar-se emocionalmente para atuar onde o sentido é posto à prova;

- Lidar com a exposição midiática, pressões institucionais e ausência de tempo;

- Atuar com firmeza ética e profunda humanidade;

- Cuidar do cuidador — psicólogos também precisam de suporte, supervisão e escuta.

 

8. Fechamento

 

Como psicólogos e psicólogas, não temos como evitar o desastre. Mas temos o poder de tornar o sofrimento mais digno, a dor mais acompanhada, e o caos um pouco mais humano.

 

Que nossa escuta não seja só técnica, mas também afetiva.

Que sejamos pontes, mesmo entre escombros.

E que a psicologia esteja sempre onde a vida pulsa – mesmo quando tudo parece ruir.

 

Muito obrigada.

RECOMEÇO COM RAIZES



Volto ao espaço com o mesmo proposito que me move há tanto tempo : Pensar , escrever e compartilhar experiencias que nascem da escuta , da prática e do compromisso com o humano 

Durante um tempo, o silencio foi necessário . Mas hoje , o silencio amadureceu, e virou gesto de retorno

Reabrir este blog é para mim, um exercício de  reocupar a palavra pública 

Sou psicóloga, atuo com psicologia da aviação , com gestão do risco , com emergências e desastres. Mas antes de tudo sou alguém que crer na Palavra como forma de cuidado.

Aqui quero seguir construindo pontes , entre reflexão e ação. Quero trazer textos, registros experiencias e provocações que nascem no chão onde piso e dos céus por onde voam , com medo, esperança ou dor .

Seja quem for que passe por aqui , saiba: Este blog é território de escuta , ética e pensamento .

Estou de volta 

Com raízes mais fundas .

E com a mesma vontade de aprender , de ensinar e de seguir escrevendo o que importa.

Concepereira 

  

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA DE AVIAÇÃO

http://www.abrapav.com.br/

INTERVENÇÃO EM CRISE: RELATO DE UM ATENDIMENTO PSICOLÓGICO EM UM ACIDENTE AERONÁUTICO



Maria da Conceição Pereira*
Everton Botelho Sougey**
José Waldo Câmara Filho***

RESUMO
O objetivo deste artigo é fazer um relato de experiência e refletir sobre a prática vivenciada no período de atendimento psicológico em situação de crise e emergência decorrentes do acidente do voo 1907, ocorrido na Amazônia brasileira em 2006. Neste trabalho, são realizadas considerações teóricas com base em bibliografia especializada e análises críticas advindas da própria experiência relatada. Buscou-se abordar a necessidade de melhoria dos atendimentos psicológicos emergenciais diante de desastres, a fim de reduzir do risco à saúde daqueles que passam por situações de traumas.

CHECKLIST - FATOR HUMANO









ASPECTOS PSICOLÓGICOS NAS SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA E DESASTRES AÉREOS



Maria da Conceição C. Pereira
Doutora em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento na UFPE, Mestre em Psicologia Clinica Institucional, Psicóloga do Segundo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos-SERIPA/CENIPA, docente em Curso de Ciências Aeronáuticas, Instrutora em Segurança de voo, facilitadora de CRM e consultora em Fatores Humanos e Gerenciamento de Crises.

1-    INTRODUÇÃO
Um acidente aeronáutico instala uma crise, e, na instauração de uma crise, há sempre situações novas e desconcertantes que podem dar lugar a uma inoperância ou desativação dos habituais mecanismos adaptativos psicológicos.

A Investigação do acidente aeronáutico: Uma intervenção Fenomenológica




Maria da Conceição Pereira Sougey [1]
Apresentação
O objetivo desse estudo, com bases metodológicas na Fenomenologia Existencial, é apresentar a investigação do acidente aeronáutico sob a luz de um processo interventivo fenomenológico, entendendo o acidente como um fenômeno sistêmico e complexo. Procurando, não só a explicação dos processos desencadeadores, mas, a compreensão dos fatos desencadeantes do acidente, considerando o significado e o sentido desses fatos/fenômenos.

Texto do Livro Os voos da psicologia no Brasil- Estudos e Práticas na Aviaçao -2002

VOAR: ENTRE O PRAZER E A REALIDADE
Maria da Conceição Pereira
“Na teoria da psicanálise não hesitamos em supor que ocurso tomado pelos eventos mentais está automaticamenteregulado pelo Princípio de Prazer, ou seja, acreditamos queo curso desses eventos é invariavelmente colocado emmovimento por uma tensão desagradável e que toma umadireção tal, que seu resultado final coincide com umaredução dessa tensão, isto é, com uma evitação dedesprazer ou uma produção do prazer.”FREUD (1920)
INTRODUÇÃO
Entenda-se com estas elaborações teóricas, o quanto é necessário o estudo sistemático doque podemos chamar de personalidade característica e própria ao vôo e o acompanhamento dohomem/aviador no dia-a-dia de suas atividades, buscando sempre um enfoque histórico-social, nosentido de que suas ações comportamentais devem ser entendidas em função do interagir da suaestrutura psíquica e suas relações psicossociais e afetivas.Neste texto, não é nossa intenção fazer conclusões teóricas e sim, criar a possibilidade depermitir que novas propostas surjam em contraponto ao que está sendo aqui enfatizado. O queapresentamos como um pensar teorizado, estão dimensionados e contextualizados nas observações eescutas realizadas no nosso trabalho de psicóloga voltado para a segurança de vôo enquantoanalisadora dos contribuintes humanos nos incidentes/acidentes aeronáuticos, como também a partirdos contatos formais e informais junto aos pilotos.O foco do nosso contexto teórico está calcado na forma de como preferimos pensar sobre ohomem, não numa verdade absoluta ou única, mas procurando pensar num modelo psicanalítico quetenta interpretar os fenômenos existentes no comportamento humano, tanto no plano individualcomo social, acreditando que essa perspectiva oferece este espaço de forma mais ampla para acompreensão dos fenômenos relacionados também ao homem que voa.As idéias Freudianas não ignoraram a importância dos laços sociais que os indivíduosformam uns com os outros, e as teorias psicanalíticas contemporâneas consideram que são vários osfatores que constituem e afetam a mente humana, e os enfatizam no contexto em que se fazempresente no seu dia-a-dia .A aviação, enquanto atividade profissional, tem, no nosso entender, característicasextremamente diferenciadas e exigências não menos complexas, onde o homem supera sua própriaimpossibilidade de sair da terra, voando através de um aparato artificial.Estamos nos detendo, em nossas análises e elaborações feitas de forma mais central nohomem/aviador que exerce a atividade de voar profissionalmente e mantém uma relação de trabalhojunto às organizações e empresas que são responsáveis pelos serviços da aviação no Brasil.Consideramos, nessas elaborações, uma compreensão e, ao mesmo tempo, refletimos sobreesse homem e sua segurança ao voar, entendendo que o sujeito que voa profissionalmente precisamanter seu prazer e desejo de voar, aliando sua satisfação pessoal com a profissional.O HOMEM QUE VOA E SUA DIMENSÃO PSÍQUICA“Voar na verdade, entre outras nuances, é um poucodaquele sentimento que te faz justificar ou nomear suaatitude de arriscar, transgredir, transcender ... atitudesque concretizam o desejo do homem voar...”CMTE. CARLOS BATISTAUm pensar psicanalíticoJá está por demais afirmado que o homem não é programado biológica nempsicologicamente para voar. Mas um desejo o mobilizou tanto, que a realidade da aviação de hoje,por si só, já deixa claro o que ele conseguiu alcançar.Num retorno às personagens mitológicas de Dédalo e Ícaro, encontramos a resposta de umaantiga intenção de realizar um desejo. E hoje, na transformação das penas e cera em um aparatotecnologicamente apropriado, ele realiza o seu intento. O desejo de voar no homem é o elementopropulsor para a realização dessa façanha. Esse desejo está psicologicamente dimensionado porrazões inconscientes, pré-conscientes e conscientes, pouco explicáveis ou de explicaçõescomplexas, já analisadas por vários teóricos.Buscar realizar o desejo de voar, remete ao prazer que se faz presente no ato de voar.No nosso trabalho junto à segurança de vôo, seja em investigação de incidentes e acidentesaeronáuticos ou como instrutora na área do fator humano, temos tido uma preocupação demelhorarmos nosso entendimento deste homem aviador e de suas relações com o voar. Sempre querealizamos uma entrevista junto aos pilotos, temos por costume, até para quebrarmos um pouco aformalidade imposta nas nossas relações junto aos mesmos, iniciarmos nossa conversa ouvido-osobre sua perspectiva de escolha profissional voltada para aviação e o que o impulsiona no seuprocesso motivacional ao vôo , questionando: o que o motiva voar? E embora não tenhamos feitonenhum estudo quantitativo sobre as respostas oferecidas podemos afirmar, de forma qualitativa,que a grande maioria dos aviadores que escutamos diz que: o que o motiva é o prazer que encontrano ato de voar!Partindo desses nossos encontros e conversas formais e informais, e procurando estudar osreferenciais teóricos da aviação que colocam a perspectiva do prazer consciente na atividade devoar como algo inerente e próprio do homem que busca a atividade aeronáutica, começamos sentir anecessidade de teorizar a relação desse prazer consciente com a atividade do voar para melhorcompreender esses homens. E procurando ampliar esse entendimento passamos a tecer um pensarpsicanalítico que nos possibilita dimensionar esse prazer e a sua vivência na prática.Nos reportamos a FREUD, em 1920 e o seu “Além do Princípio de Prazer”, que no nossoentender cabe muito significativamente para as elaborações aqui descritas. Ele relaciona o prazer eo desprazer à quantidade de excitação presente na mente. Existe uma forte tendência nos eventosmentais, no sentido da busca do prazer. Estamos sempre regidos pelo Princípio de Prazer, que épróprio de um processo primário de funcionamento do nosso aparelho psíquico (FREUD, 1976).Embora tenhamos tal tendência, não quer dizer que sempre o consigamos. Até porque, emfunção dos nossos instintos de autopreservação, o Princípio de Prazer é substituído pelo Princípiode Realidade”, que não abandona a intenção de se obter o prazer, mas exige e efetua o adiamento dasatisfação em um dado momento. Este Princípio de Realidade está nos níveis de pré-consciência econsciência, em um processo de funcionamento secundário (mais adiante explicaremos esseprocesso).LAPLANCHE & PONTALIS (1988), descrevendo os conceitos Freudianos de Princípio dePrazer e Princípio de Realidade, diz que o Princípio de Prazer rege o funcionamento mental e aatividade psíquica, no seu conjunto tem por objetivo evitar o desprazer e proporcionar o prazer. OPrincípio de Realidade rege o funcionamento mental, formando par com o Princípio de Prazer emodificando-o. Na medida em que o Princípio de Realidade consegue impor-se como princípioregulador, a procura da satisfação já não se efetua pelos caminhos mais curtos, mas segue pordesvios e adia o seu resultado em função das condições impostas pelo mundo exterior.Freud postulou que o Princípio de Realidade se desenvolve a partir do desapontamento, dafrustração, e que o seu poder se exerce nas pulsões de autopresevação, o homem aprende arenunciar ao prazer momentâneo, incerto e destrutivo, substituindo-o pelo prazer adiado, restringidoe garantido. Assim, em função deste pensar, seguir as regras e os procedimentos, dentro dos padrõesoperacionais existentes na atividade de voar, pode significar restringir e adiar o prazer imediato,mas, também, garantir um vôo seguro e o prazer consciente.O entendimento desses princípios dar-se-á a partir da compreensão dos dois modos defuncionamento do nosso aparelho psíquico, o processo primário e o processo secundário.“Do ponto de vista tópico, o processo primário caracteriza o sistema inconsciente, e oprocesso secundário caracteriza o sistema pré–consciente e consciente”.“Sob o ponto de vista dinâmico, no processo primário a energia escoa-se livremente e tendea reinvestir plenamente as representações ligadas às vivências de satisfação constitutivas do desejo.No processo secundário a energia começa por estar "ligada" antes de se escoar de forma controlada;as representações são investidas de uma maneira estável, a satisfação é adiada, permitindo assimexperiências mentais que conduzem a diferentes caminhos possíveis de satisfação”. (LAPLANCHE& PONTALIS, 1988).No processo evolutivo do pensamento Freudiano, ele identificou um dualismo funcional naspulsões voltadas para o instinto de preservação da vida que é a pulsão de autoconservação e apulsão sexual, onde a diferença básica dessas duas pulsões é que as mesmas se encontram sob opredomínio de diferentes princípios de funcionamentos, como as pulsões de autopreservação sópodem satisfazer-se com um objeto real, o princípio que rege seu funcionamento é o Princípio deRealidade, enquanto que as pulsões sexuais, podendo satisfazer-se com objetos fantasmáticos,encontra-se sob o domínio do Princípio de Prazer.Essa teoria dualista das pulsões foi progressivamente modificada, e Freud introduziu umnovo dualismo:o da pulsão de vida e da pulsão de morte. A tendência inerente de retorno que todoser vivo tem de retomar ao seu estado inorgânico, Freud chamou de pulsão de morte; enquanto oesforço para que esse objetivo se cumpra de maneira natural, ele denominou de pulsão de vida.Sendo objetivo da pulsão de vida evitar que a morte ocorra de forma não natural.É importante salientar que tanto as pulsões sexuais e as pulsões de autoconservação sãoconsideradas pulsões de vida, já que ambas são conservadoras, as primeiras mantendo o padrão derepetição, isto é, garantindo a mesmidade do organismo e a segunda preservando o organismo dainfluencia desviante dos fatores externos.Há, em todo ser vivo, uma tendência para a morte que é irremediavelmente cumpridasegundo a psicanálise. O que devemos entender é que essa tendência é interna ao ser vivo, resultade uma tentativa do próprio ser vivo de retornar a seu estado inorgânico, como já foi ditoanteriormente, e o que pode ocorrer é um movimento em direção a morte que é empreendida pelopróprio ser vivo.O que se entende é que a idéia de uma autonomia completa das pulsões é uma idéia limite,análoga a do funcionamento do Princípio de Prazer e do Princípio de Realidade.Partindo desse pressuposto, não temos a intenção de desenvolver estudos de todas aspossibilidades implícitas na teoria pulsional Freudiana nesse texto, mas fazer uma espécie de ponteno entendimento da preservação e conservação da segurança no voar com o Princípio de Prazer e oPrincípio de Realidade elaborando teoricamente nesse contexto.O ser humano, que não nasceu feito para o vôo, deve ter uma estrutura psíquica, na qual oprazer e a satisfação na atividade de voar possa manter seu componente de autopreservação. Voarem um instrumento artificial gera riscos constantes e necessita de uma motivação em níveis de préconsciênciae consciência que permita a sua segurança na realização de tal atividade. O pensamentoda vigília, o juízo, a atenção, o raciocínio e a ação controlada são exemplos de processossecundários que dimensionam o “Princípio de Realidade” .Considerando tal princípio comoregulador do funcionamento psíquico, podemos inferir que as atitudes expressas em dadas situaçõesestarão interligadas a esses componentes, e que os erros e as falhas humanas, que levam a umincidente/acidente, podem estar relacionados aos mesmos.Vale ressaltar que o princípio de prazer continua a reinar em todo campo das atividadespsíquicas, funcionando, segundo as leis do processo primário, em nível inconsciente. E nasobservações Freudianas há um campo muito vasto de compreensão a respeito do sistema designificação de natureza inconsciente, onde concluímos que o homem tende a dar significado a seumundo de maneira inconsciente. O mundo aeronáutico também se inclui nesta dimensão, muitoparticularmente , por todos os componentes simbólicos que a atividade de voar traz para o homemque voar.PATT Y MOIA (1989) colocam, em suas elaborações teóricas, “que ao sair da terra em suasmáquinas voadoras, o homem submete-se a um meio hostil onde fisiologicamente implicou numgrande processo adaptacional, que a tecnologia ajudou. Mas no que diz respeito ao nível mental(psicológico) não existe nenhum recurso tecnológico que permita ao homem ter uma adaptação àscondições de voar. E neste caso é nele, em si mesmo, através de um processo intrapsíquico quesurge está adaptação. Eles citam EY H. BERNARD “...dueno de su caracter autor de su personaje,artesano de su mundo y sujeito de su conocimiento”.Acreditamos que, no ser humano, a flexibilidade e a capacidade adaptativa vai acontecendoconforme as solicitações do ambiente e em função da percepção de seu mundo interno. É o pilotoque terá a consciência de si e que terá que administrar ou controlar os rendimentos instintivos epulsionais do seu inconsciente. A sua aptidão para perceber, avaliar, tomar consciência e decidirsobre si mesmo e em função do que o cerca, terá sempre um modo particular e pessoal quedependerá de suas interpretações e do significado que poderá dar aos estímulos que recebe, gerandocomportamentos diferenciados em cada situação e circunstância.Refletimos aqui que a estrutura psíquica será sempre um elemento fundamental no processoadaptacional do homem na atividade de voar.Voltando a PATT Y MOIA (1989), que dizem: “é no nível inconsciente onde se encontramas verdadeiras forças motivacionais que explicam os comportamentos atípicos e típicos da atividadeaeronáutica”, ressaltando esses componentes e a necessidade de buscarmos um entendimentopsicológico dos tripulantes em geral, de forma profunda e também através das manifestaçõespsicossomáticas e psicopatológicas que podem apresentar, nos quais manifestam-se os mecanismoscomplexos regidos não pelo Princípio de Realidade e da consciência, e sim pelo Princípio de Prazer.PATT (1985) dimensiona os componentes psicológicos que dinamicamente mantêm umaestrutura psíquica adequada para a motivação aeronáutica. Esses componentes, no nível consciente,passam pelo gosto de voar, pela busca de sensações novas; numa relação direta com o Princípio deRealidade e a satisfação do prazer. No nível pré-consciente, que envolve aspectos também doprocesso secundário, relacionados aos prováveis ganhos, a vivência do poder, benesses e facilidadesque a atividade de voar pode oferecer a quem a executa, e podemos acrescentar também, asrealizações pessoais que se procura nas profissões que se desempenham.Mas não podemos esquecer que é no nível inconsciente, que a força motivacional do desejoem voar, se efetua. A dimensão motivacional desse homem passa efetivamente pela perspectiva dopoder de transgredir, arriscar, ultrapassar as leis da natureza, e no desejo de superar a si e superar oque a natureza lhe impõe.A superação da angústia de voar, ou o medo de voar, é a fonte de referência paraentendermos a relação, provavelmente mais adequada, para a atividade aeronáutica.Como esses medos são superados ou como eles se fazem presentes em algumas pessoas eem outras não?A explicação, na visão psicanalítica, está em como nossas primeiras relações de afeto foramdimensionando o nosso mundo, e como as situações de temores relativas à angústia de morte, osnossos medos infantis, foram superados. É na superação desses medos que se efetivará asuplantação da angústia de voar. Nesta superação são exigidos recursos psíquicos inconscientesdenominados de mecanismos de defesa, que permitem a redução da ansiedade gerada diante daperspectiva do desprazer perceptivo.O desprazer pode ser a percepção externa do que é aflitivo em si mesmo, ou que existaexpectativas desprazerosas no aparelho psíquico. Isto é, que pode ser reconhecido como "perigo".As defesas utilizadas diminuem a angústia com relação à atividade aérea, estas defesasdevem ser entendidas como a forma que a nossa mente encontra para se proteger das tensõesinternas ou externas.Na atividade aeronáutica, as tensões relativas aos riscos são constantes, pois é uma atividadeem que o erro ou a falha humana pode levar a perdas de vidas, a perda da vida do piloto!Junto às tensões próprias de um vôo não podemos esquecer que, enquanto sujeitosbiopsicosocial, outras tensões, fora da atividade em si, podem estar existindo.No caso do piloto, dentre os mecanismos de defesa favoráveis ao vôo, descritos por PATT(1985), encontramos aqueles mecanismos que excluem a realidade do perigo, através da negação(negam a possibilidade da morte), redefinem a realidade na racionalização (o avião é o transportemais seguro que existe), evitam a realidade na repressão (não posso pensar que é perigoso, afastoeste pensamento da consciência!). Estes mecanismos se juntam a outros e reforçam a possibilidadeadaptacional do homem que voa.Se voar é potencialmente perigoso para o homem, os mecanismos de defesa favoráveisprecisarão estar sempre sendo utilizados, para a manutenção de uma estrutura psíquica adequada aovôo.Podemos sugerir que, de acordo com tudo que foi analisado dentro desta dimensão teóricapsicanalítica, no momento em que surge o desprazer perceptivo, que é o elemento que permite oreconhecimento do “perigo” iminente em uma dada situação, o homem/aviador deverá buscar umaresposta que esteja sendo regida pelo Princípio de Realidade, mantendo sua pulsão deautopresevação, garantindo sua segurança ao voar. Nessa perspectiva, pensamos no dualismo daspulsões de morte e pulsões de vida, isso seria garantir a normalidade do caminho para a morte. Seria manter o objetivo da pulsão de vida.
O PRAZER X A REALIDADE
“Solo el placer es capaz de transcender sobre el miedoinherente al peligro”.DIERO MIISENARD (1975)
O mundo exterior é o único a fazer as leis e regras na aviação. Como o piloto conseguemanter sua estrutura psíquica saudável vinculada no contexto dessas regras e leis, e ainda assim,também manter seu desejo e prazer de voar?Este é um questionamento pelo qual tentamos encontrar respostas, que devem partir dabusca do entendimento desse sujeito de forma integral, sua relação com a atividade de voar e todocontexto que esta atividade está inserida, de forma organizacional, política, social e econômica.Hoje, esta atividade está extremamente modificada na essência do que o homem aviadorbuscava em seus primórdios. Mudanças não só de ordem da perspectiva do desenvolvimentotecnológico, voltadas para a intensa automação nas aeronaves e dos demais sistemas cooperativosda aviação, mas também em função das relações implementadas pelas regras e normas vigentes, queimpõem a este homem um padrão específico, de comportamento no ato de voar. Comportamentoeste, que, provavelmente, nem sempre é o mais desejável por ele, o aviador, pois tem lhe roubado oprazer consciente nesse ato.É importante salientar que as novas tecnologias, ao mesmo tempo em que trouxeramsoluções, geraram outros problemas. O que nos leva a considerar uma nova perspectiva para ostreinamentos e aos vôos propriamente ditos; onde novos sistemas se fazem presentes, comprocedimentos e operações diferenciadas, que devem ser apreendidas e implementadas pelohomem/aviador dos dias de hoje.Nos parece que os pilotos se defrontam com a necessidade de estabelecer, no ato de voar,uma relação diferenciada com sua atividade, em função das exigências pré-estabelecidas no sistemaaeronáutico atual. Essas exigências devem os estar levando a formular novos mecanismos dedefesas, que devem aliar-se aos já descritos neste texto, tendo em vista a manutenção de sua saúdemental numa perspectiva de procurar dar conta de si e de seu prazer consciente em voar.Em paralelo as novas regras e procedimentos exigidos a este homem, com odesenvolvimento tecnológico, faz-se necessário também considerar que se percebe muitoclaramente uma mudança radical nas relações de trabalho, em todos os seguimentos profissionais domundo contemporâneo, atingindo também, é claro, a atividade aeronáutica..As perspectivas empresariais na aviação, no nosso entender, têm tomado rumos e caminhosem que o sentimento de pertinência ao sistema no piloto, não está se fazendo presente, uma vez quetomadas de decisões nos níveis gerências não tem levado em consideração nem respeitado seusposicionamentos como executores da atividade do voar, o que tem gerado tensões a mais e sejuntam àquelas que são próprias a sua atividade profissional, ampliando suas preocupações.Na nossa “escuta” junto a este homem, tem sido freqüente um discurso queixoso:“precisamos de tranqüilidade, de melhores condições de trabalho, de mais treinamento, de maiorconfiabilidade nos equipamentos que usamos, de não voar cansados, de respeito aos nossos limitespsicofísicos, de termos melhores salários, para que possamos cuidar melhor de nossas famílias,precisamos ser reconhecidos profissionalmente e respeitados como seres humanos!”.Forças externas a este homem, que trabalha na aviação, tem provavelmente o levado aperceber-se quase alheio dentro do sistema aeronáutico vigente.Usando uma proposta teórica de BOHOSLAVSKY (1983), que transformamos para o nossopensar e aqui formulamos, o piloto/aviador vive uma “alienação profissional”, entendendo essaalienação como alguém que vislumbra, por trás do desmoronamento de suas ilusórias imagensvocacionais de piloto, as condições reais de produção numa sociedade capitalista. Alguém quepercebe a substituição de sua onipotência narcisista (“quero ser um comandante de uma grandecompanhia aérea, ser reconhecido profissionalmente, ter um bom salário, viver bem e ter minharealização total como ser humano”) pela “encruzilhada opcional” do medo do desemprego (ou dafalta de emprego), da necessidade de suportar excesso de carga horária, dos salários nãocompatíveis as suas expectativas e de sentir-se apenas um elemento a mais de um sistemaoperacional. Só que, a base da segurança deste sistema operacional está neste homem!A realidade o coloca num plano subjetivo de um “lamento”, por não encontrar mais em suaatividade, os canais necessários do prazer possível e tão desejado. E assim se percebe numacontradição difícil de ser superada. Ele fica entre sua realização pessoal e seus ideais de vida.Pensando nas circunstâncias que se fazem presentes nos dias de hoje, junto à aviação, pareceque os pilotos se defrontam com a sensação de que as leis e projetos que devem seguir, lhes são“estranhas”!Diante deste quadro descrito, torna-se mais difícil ainda manter um estado psíquico adaptadoàs circunstâncias do voar, acarretando em situações onde a vulnerabilidade humana se evidencia. Eas falhas/erros humanos fazem-se mais presentes, resultado de quadro sintomático de reação a umambiente nocivo a este processo adaptativo.As elaborações teóricas aqui formuladas querem reforçar a necessidade de tratarmos doserros humanos como sintomas e não causas. Partindo do pressuposto que, buscar entendê-los,permitirá uma orientação ao gerenciamento de ações, de forma que se faça uma real prevençãojunto ao homem e sua segurança no voar.Teóricos e estudiosos do fator humano na aviação têm classificado os erros/falhas desseshomens, em função dos deslizes, lapsos, equívocos e violações que os mesmos possam apresentarnuma dada situação em vôo. Entendendo os deslizes e lapsos numa categoria em que, a intenção écorreta mas a ação é incorreta, e os equívocos e violações numa categoria em que a intenção éincorreta.O esquecimento de um item de um checklist após o atendimento de uma chamada docontrole de tráfego, e o ajuste incorreto da altitude no seletor do painel quando a altitude correta éconhecida e a intenção era ajustá-la corretamente são exemplos típicos de lapsos e deslizesrespectivamente que o homem pode cometer. O corte do motor errado no resultado de uma análiseincorreta dos parâmetros é visto como equívoco e insistir em pousar mesmo quando a visibilidademínima não foi obtida na aproximação final é entendida como uma violação.Buscar compreender esses erros/falhas humanas seria questionar o que está significandoestes comportamentos expressos, uma vez que em todos eles motivos inconscientes na ação sefizeram presentes.Quando nos deparamos com situações de incidentes e acidentes na aviação, as análisesformuladas são dimensionadas pelas observações feitas de forma genérica naquilo que éconsiderado falha humana, resultado de um ato explicado pela perspectiva relacional do homemcom os elementos básicos que o permite voar, sua relação com a máquina, as condiçõesorganizacionais e psicossociais presentes no desenrolar dos fatos que culminam com o evento.Observamos que, embora as análises procurem oferecer uma dimensão de que osincidentes/acidentes não ocorrem a partir de uma única falha, seguindo a visão de MAURIÑO et al.(1995), mas de uma série de fatores que constroem esses incidentes/acidentes, ainda tem se focado afalha ou erro humano numa dimensão onde o indivíduo, especialmente o piloto, é responsabilizado,inclusive criminalmente, por um ato que, provavelmente, conscientemente não tinha intenção depermitir acontecer.Entendemos que os erros/falhas devem ser abordados de forma diferenciada, considerandotodos os fatores que se fazem presentes nas relações efetivadas pelo homem na atividade de voar,analisando suas conseqüências e a forma de como seus efeitos podem ser revertidos.Enfrentar de forma sistemática as melhorias desejadas de segurança no voar, torna-seextremamente difícil na medida em que as organizações e as pessoas que as fazem, ficam commedo de entender as falhas humanas segundo um padrão verdadeiramente sistêmico. E reforçandouma cultura de segurança voltada para a culpa.Acreditamos que devemos procurar entender que, as falhas não ocorrem isoladamente, no ounum indivíduo, e que quando estão relacionadas ao indivíduo precisamos pensar no mesmo deforma integral, um ser biológico, psíquico e social, que se integra e busca adaptar-se a situação devôo, mas que também necessita de condições que favoreçam está adaptação.Em nossas elaborações, voltadas para o entendimento do homem na aviação, sugerimos queo elemento propulsor motivacional do vôo está no desejo e no conseqüente prazer consciente que seobtém ao voar. A complexidade existente nesse sistema motivacional, que parte do inconscientepara o consciente do homem, percorrendo toda sua estrutura psíquica, necessita de um ambiente queo favoreça encontrar as condições de manutenção do bem estar interno e externo, e assim permita oprocesso adaptacional adequado e seguro no seu ato em voar.Nosso questionamento básico aqui é: o que leva esses homens a executarem umprocedimento inadequado que pode levá-los à morte, deixando de lado sua pulsão deautopreservação, regido, como já descrito anteriormente, pelo Princípio de Realidade?Procurar uma resposta, para esta pergunta, passa fundamentalmente pelo próprio homem/aviador, seja ele iniciante ou experiente na atividade de voar, pelas suas características depersonalidade, que propõem uma forma de relacionar-se com o ato de voar no encontro com seudesejo e prazer de voar, e também no como este encontro está sendo permitido.Questionamos também as organizações e empresas em geral, ligadas à aviação eresponsáveis pelos vôos desses homens. Em que condições estão sendo permitidas esses homensvoarem?Podemos supor, dentro da abordagem teórica aqui proposta e dentro da idéia de que ohomem precisa manter-se equilibrado psicologicamente conservando fortalecida sua estruturapsíquica, que o sujeito que busca o prazer imediato, gerado pela ultrapassagem dos seus limites,pode estar buscando a superação do "perigo" que o excita e, inconscientemente ignorando suaautopreservação, efetivando um descompasso e a desintegração de suas ações no voar.Principalmente por não está vivenciando o estímulo, consciente e necessário, motivacional, o prazerem voar.Diante desse pensar, um tanto por demais subjetivo, mas não menos importante paraentendermos o homem e sua atividade no vôo, acreditamos estar contribuindo com a segurança devôo e alertando que esse homem, hoje tão pouco reconhecido no seu papel de piloto/aviador no diaa dia de seus afazeres profissionais, em um dado momento, regido essencialmente pelo Princípio dePrazer, possa inconscientemente buscar a essência do seu desejo e prazer em voar e a satisfaçãoimediata desse prazer, que sabemos, deve ser adiado na medida que garante a preservação de suavida.Procurando também pensar caminhos para tudo que aqui foi refletido, cremos que temosalgo a devolver a este homem. Entendemos, assim como PATT Y MOIA (1989) que colocam: só háum sentimento coerente no processo adaptacional do homem que voa, e nele encontramos apossibilidade de obtermos maior segurança no seu vôo: “la alegria de volar ”!Cremos também é necessário retornamos ao entendimento das necessidades desse homem epoder mantê-lo adaptado psicofisiológica e socialmente em sua atividade, assim, estaremosoferecendo a possibilidade concreta de manter a sua segurança no voar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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